0 Missão Integral

O futuro do movimento de Lausanne  

 René Padilla


Os números relacionados com o Terceiro Congresso Internacional de Evangelização Mundial — que aconteceu na Cidade do Cabo, África do Sul, de 17 a 24 de outubro, sob o tema “Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo” (2 Coríntios 5:19) — são impressionantes. Estiveram presentes mais de 4 mil participantes de 198 países. Além disso, houve cerca de 650 sites de Internet conectados com o Congresso em 91 países e 100 mil “visitas” de 185 países.

Isto significa que milhares de pessoas de todo o mundo puderam assistir às sessões por meio da Internet. Doug Birdsall, o presidente executivo do Movimento de Lausanne, provavelmente tem razão em afirmar que Cidade do Cabo 2010 foi “a assembleia evangélica global mais representativa da história”. Sem dúvida, este resultado foi alcançado, em grande medida, por meio de seu longo esforço.

Igualmente impressionantes foram os muitos arranjos práticos que se fizeram antes do Congresso. Além do difícil processo de seleção dos oradores para as plenárias e para os “multiplexes” (seminários) e as sessões de diálogo, dos tradutores e dos participantes de cada país representado, havia duas tarefas que devem ter envolvido muito trabalho antes do Congresso: a Conversa Global de Lausanne, para possibilitar que muita gente ao redor do mundo fizesse seus comentários e interagisse com outros, aproveitando os avanços tecnológicos contemporâneos; e a redação da primeira parte (a teológica) do Compromisso da Cidade do Cabo, redigida pelo Grupo de Trabalho Teológico de Lausanne, sob a direção de Christopher Wright.

Uma avaliação positiva de Lausanne III

A melhor maneira de comprovar o valor de uma conferência como Lausanne III é analisar os resultados concretos que ela produz posteriormente em relação com a vida e missão da igreja. Por esta razão, a avaliação presente da conferência que acaba de ser realizada na Cidade do Cabo tem que ser considerada como nada mais do que uma avaliação preliminar.
Cada um dos seis dias de programa (com um dia livre entre o terceiro e o quarto) tinha um tema:

1) Segunda-feira – Verdade: Defender a verdade de Cristo em um mundo pluralista e globalizado.

2) Terça-feira – Reconciliação: Construir a paz de Cristo em nosso mundo dividido e ferido.

3) Quarta-feira – Religiões Mundiais: Testemunhar o amor de Cristo a pessoas de outras crenças.

4) Sexta-feira – Prioridades: Discernir a vontade de Deus para evangelização deste século.

5) Sábado – Integridade: Chamar a igreja de Cristo de volta à humildade, integridade e simplicidade.

6) Domingo – Parceria: Formar parceria no corpo de Cristo rumo ao novo equilíbrio global.
Cada um destes temas chaves, qualificados como “os maiores desafios para a igreja na próxima década”, era o tema de estudo bíblico e da reflexão teológica a cada dia pela manhã. O texto bíblico que se usava na série intitulada “Celebração da Bíblia” era a carta aos Efésios. Um dos aspectos mais positivos do programa foi o estudo indutivo da passagem do dia, em grupos de seis membros sentados ao redor de uma mesa. Isto deu aos membros do grupo a oportunidade de aprender juntos, de orar uns pelos outros, desenvolver novas amizades e construir alianças para o futuro. Ao estudo bíblico em grupos, seguia a exposição da passagem de Efésios selecionada para esse dia. Sem minimizar a importância da música, do teatro, das artes visuais, dos testemunhos e das apresentações multimídia, uma alta porcentagem dos participantes sentiu que o tempo dedicado a “Celebrar as artes” poderia ter sido reduzido para dar mais tempo para “Celebrar a Bíblia”, atividade que gostaram muito.

Cabe fazer uma menção especial aos vários testemunhos que foram dados nas sessões plenárias pela manhã por certas pessoas cuja experiência de vida ilustrava claramente o tema do dia. Quem que esteve ali poderia se esquecer, por exemplo, da jovem palestina e do jovem judeu que falaram juntos sobre o significado da reconciliação em Cristo acima das barreiras raciais? Ou da missionária estadunidense que falou sobre testificar do amor de Cristo a pessoas de outras religiões, contando como vários cristãos — incluindo seu esposo, médico de profissão — foram assassinados por muçulmanos enquanto regressavam de um povoado isolado onde haviam estado servindo movidos pela compaixão cristã no Afeganistão?

Nos “multiplexes” e nas sessões de diálogo de cada dia (à tarde), foram exploradas em profundidade as implicações práticas do estudo e da reflexão bíblicas da manhã. Certamente que o debate mais relevante sobre os diferentes temas não se realizava necessariamente dentro dos limites de tempo definidos no programa mas nas conversas informais fora do programa oficial. De qualquer maneira, é um fato que muita da reflexão mais rica sobre os assuntos relacionados com os problemas globais contemporâneos se dava nas sessões da tarde. Estas sessões participativas, nas quais se levavam em conta a compreensão da diversidade de perspectivas representadas; a contextualização de ideias, modelos, contatos e materiais; e o compromisso para articular planos de ação, serão a base para a segunda parte do Compromisso da Cidade do Cabo. O plano é publicar o documento de duas partes (a teológica e a prática) com um guia de estudo no fim de novembro.

Dos vinte e dois multiplexes que se ofereceram durante o Congresso, houve especialmente três que enfocavam assuntos que poderiam ser considerados como os mais críticos para o hemisfério Sul: a globalização, a crise ambiental e a relação entre riqueza e pobreza. Estes três fatores estão vinculados intimamente entre si e, em vista do enorme impacto que produzem em milhões de pessoas no mundo das grandes maiorias, merecem muito mais atenção que receberam até o momento por parte do movimento evangélico.

Sérias deficiências

Segundo a definição oficial de sua missão, o Movimento de Lausanne existe para “fortalecer, inspirar e equipar a Igreja para a evangelização mundial em nossa geração, e exortar os cristãos sobre seu dever de participar em assuntos de interesse público e social”. Uma análise detalhada desta definição expõe a dicotomia que influenciou um grande segmento do movimento evangélico, especialmente no mundo ocidental: a dicotomia entre evangelização e responsabilidade social. Por causa desta dicotomia, relacionada estreitamente com a dicotomia entre o secular e o sagrado, o Movimento de Lausanne se propõe a “fortalecer, inspirar e equipar a Igreja para a evangelização” mas só “exortar os cristãos” a respeito de sua responsabilidade social. 

O pressuposto que está implícito é que a missão prioritária da igreja é a evangelização, concebida em termos de comunicação oral do Evangelho; enquanto que a participação em assuntos de interesse público e social — as boas obras por meio das quais os cristãos cumprem sua vocação como “luz do mundo” para a glória de Deus (Mateus 5:16) — é um dever secundário, para o qual os cristãos não necessitam ser fortalecidos, inspirados e equipados, apenas exortados.

Na exposição bíblica de terça-feira, baseada em Efésios 2 (o segundo dia do Congresso), esclareceu-se, a partir do texto bíblico, que Jesus Cristo é nossa paz (v.14), fez nossa paz (v.15) e anunciou paz (v.17). Em outras palavras: em Cristo, o ser, o fazer e o proclamar paz (“shalom”, vida em abundância) são inseparáveis. A igreja é fiel ao propósito de Deus na medida em que ela prolonga a missão de Jesus Cristo na história, manifestando a realidade do Evangelho concretamente não apenas pelo que diz mas também pelo que é e pelo que faz. A missão integral da igreja está enraizada na missão de Deus em Jesus Cristo, missão que envolve toda a pessoa em comunidade, a totalidade da criação e cada aspecto da vida.

A exposição bíblica baseada em Efésios 3, no dia seguinte, pôs em relevo a necessidade urgente que o Movimento de Lausanne tem de esclarecer teologicamente o conteúdo da missão do povo de Deus. Em contraste com o que se disse no dia anterior, o pregador designado para a quarta-feira afirmou que, se bem que a igreja se preocupa com toda a forma de sofrimento humano, ela se preocupa especialmente pelo sofrimento eterno e, consequentemente, está chamada a dar prioridade à evangelização dos perdidos.

Uma séria deficiência de Lausanne III foi não dar tempo para a reflexão séria sobre o compromisso que Deus espera de seu povo em relação à sua missão. Lamentavelmente, não houve tempo para dialogar sobre o Compromisso da Cidade do Cabo, sobre o qual o Grupo de Trabalho Teológico, dirigido por Christopher Wright, tinha trabalhado por um ano com a intenção de circulá-lo no começo do Congresso. 

Compartilhou-se o documento apenas na sexta-feira à noite, e não foram tomadas medidas para que os participantes escrevessem pelo menos seus comentários pessoais antes do encerramento da conferência em resposta a perguntas específicas. Segundo o Comitê Executivo, não havia tempo para isso! A postura negativa assumida pelos organizadores do programa a respeito da recomendação de um grupo de participantes anciãos interessados em conseguir que todos os participantes vissem o documento como algo seu, não apenas conspira contra esse propósito. É também um sinal de que o Movimento de Lausanne está ainda muito longe de alcançar a parceria sem a qual não tem base para se considerar um movimento global.

Em comparação com o tratamento que recebeu o documento produzido pelo Grupo de Trabalho Teológico, dedicou-se, na quarta-feira, toda uma sessão plenária à estratégia para a evangelização do mundo nesta geração — uma estratégia elaborada nos Estados Unidos baseada numa lista de “grupos de povos não-alcançados” preparada pelo Grupo de Trabalho Estratégico de Lausanne. Tal estratégia refletia a obsessão pelos números, típica da mentalidade de mercado que caracteriza um setor do movimento evangélico dos Estados Unidos. Por outro lado, segundo muitos participantes do Congresso que conhecem de primeira mão as necessidades de seus respectivos países em relação à evangelização, a lista de grupos de povos não-alcançados não fazia justiça à situação real. Curiosamente, não constava na lista nenhum grupo não-alcançado nos Estados Unidos!

Outra deficiência de Lausanne III foi que, como destacou o Grupo de Interesse em Reconciliação, não se fez nenhuma menção oficial ao fato de que o Congresso estava sendo realizado num país que até poucos anos estava dominado pelo Apartheid e ainda sofre a injustiça social resultante desta política. Na realidade, o Congresso realizou-se no Centro Internacional de Convenções que foi construído sobre o terreno que se reivindicou com os escombros do Distrito Sul da Cidade do Cabo quando, em 1950, esse distrito foi declarado uma zona exclusiva para brancos. Consequentemente, cerca de 60 mil habitantes negros foram expulsos da área à força e seus lares foram arrasados por completo. 

Entretanto, os organizadores da Cidade do Cabo 2010 fizeram ouvidos surdos ao pedido do Grupo de Interesse em Reconciliação que rechaçasse oficialmente “as heresias teológicas que deram sustento ao Apartheid” e lamentasse “o sofrimento sócio-econômico que é o legado atual do Apartheid”. Alguém pode se perguntar quão sério são os líderes do Movimento de Lausanne em seu compromisso com o Pacto de Lausanne, segundo o qual “a mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam” (parágrafo 5).

A parceria na missão e o futuro do Movimento de Lausanne

Um fato que hoje reconhecem e mencionam com frequência aqueles que têm interesse na vida e missão da igreja em nível global é que, nas últimas décadas, o centro de gravidade do cristianismo se deslocou do Norte e do Ocidente para o Sul e o Oriente. Apesar disso, com demasiada frequência os líderes cristãos do Norte e do Ocidente, especialmente nos Estados Unidos, continuam considerando que eles são os encarregados de desenhar a estratégia para a evangelização de todo o mundo. Como se afirma na página sobre o “Sexto Dia – Parceria” do livro que contém a descrição detalhada do programa do congresso, “o centro da liderança organizacional, do controle financeiro e das tomadas de decisão tende a permanecer no norte e no ocidente”.

Tristemente, o maior obstáculo para implementar uma verdadeira parceria na missão é a riqueza do Norte e do Ocidente; a riqueza que Jonathan Bonk, em seu importante livro sobre “Missions and Money” [Missões e dinheiro], descreveu como “um problema missionário ocidental”. Se é assim, e se o Movimento de Lausanne vai contribuir significativamente com o cumprimento da missão de Deus por meio do seu povo, chegou o momento de que a força missionária conectada com este movimento, incluindo seus estrategistas, renuncie ao poder do dinheiro e modele a vida missionária na encarnação, no ministério terreno e na cruz de Jesus Cristo.

Fonte: Texto enviado pelo autor para Editora Ultimato. Traduzido por Novos Diálogos.

SITE: www.jocum.org.br 

René Padilla, autor de O Que é Missão Integral?, é um dos teólogos e pensadores protestantes latino-americanos mais conhecidos em todo o mundo. Nascido no Equador e residente em Buenos Aires, Argentina, é fundador e presidente da Fundação Kairós e da Rede Miqueias.



Toda vida é missão 

e missão é toda a vida   

Ariovaldo Ramos


"O DEUS nos deu a tarefa de cuidar do planeta. É, temos de nos espalhar pela terra, conquistá-la e dominar sobre as demais criaturas.
Ele nos deu um modelo, o jardim. O jardim é comunitário, o que se busca é a beleza do conjunto. Essa beleza nasce do acesso à água, ao Sol e aos nutrientes para todas as espécies e espécimes. Assim como o controle do crescimento particular, via poda, e da proliferação, via controle de natalidade.

E isso vale, também, para nós! Eu diria, principalmente, para nós, que somos, simultaneamente, jardineiros e parte do jardim.

Além do jardim, como modêlo, o DEUS nos cumulou com possibilidades: talentos, capacidades de ordem operacional, moral e espiritual. E precisamos mesmo, temos de, cuidando, explorar o planeta! É dele que vem o sustento do DEUS para nós.

Teremos de conhecer todas as possibilidades de seu solo e subsolo, de saber como transformar isso em alimento e condições de vida, com qualidade, temos de dimensionar o espaço para nós e para as demais criaturas. 

Nós perdemos o jardim, a terra perdeu parte da sua espontaneidade, e algo aconteceu conosco, nossa natureza não é mais límpida, como era antes de termos desobedecido e de sermos expulsos. É, de verdade, ficamos exatamente o contrário do que éramos. Percebo, entretanto, parte do que fomos, em nós, mas já não é mais intrínseco a nós. De fato, parece um empréstimo do DEUS. AInda bem que o DEUS, que nos prometeu salvação, não nos deixou sem nada dele. Ah! Como sinto falta do que éramos!

O mandato, apesar de termos caído, continua, e as capacitações, apesar de termos perdido a pureza, também, permanecem. É... ainda temos uma tarefa a cumprir!"

Imaginei esse diálogo do primeiro casal, para manter a perspectiva universal da vocação humana, o chamado a cuidar do planeta e de todos os seus habitantes (Gn 1.28), incluindo, por definição, a nós mesmos. 

O chamado do DEUS, a partir de Abrão, para que todas as famílias da Terra sejam abençoadas (Gn 12.1-3) não substitui, mas, complementa o mandato, incrementando o elemento que se lhe tornou necessário, por causa da queda: a salvação de toda a criação (Rm 8.19). De modo que a missão do Israel do Antigo Testamento, que era a de trazer a criança prometida em Gn 3.15, tanto quanto a missão do Israel do Novo Testamento, que é a de anunciar a chegada da criança, a todas as famílias da Terra, fazem parte do cumprimento da responsabilidade humana.

Se toda a família humana é, em Abrão, chamada de volta ao DEUS, então, o mandato continua em vigor, porque a Terra vem junto, porque foi dada aos homens (Sl 115.16).

Quando a humanidade rompeu com o DEUS, desistiu de existir, porque é no DEUS que existimos (At 17.28). Quando a humanidade desistiu de existir, disse não ao DEUS e a tudo o que ele disse sobre a raça humana: que esta era a sua imagem e semelhança (Gn 1.26). O DEUS, entretanto, nos manteve existindo, porque nos havia criado no Cordeiro (1Pe 1.18-20; Col 1.15-17). Contudo, estávamos, fruto da queda, tomados pela maldade e, se o Criador não fizesse algo, a maldade seria o único conteúdo a dar o tom da nossa existência, o que provocaria imediata solução de continuidade, teríamos de ser aniquilados, então a Trindade, que é o DEUS, nos emprestou a sua bondade e toda boa dádiva (At 14.17; Tg 1.17). 

Em sendo assim, todo bem que há no ser humano é empréstimo do DEUS, e nessa dimensão encontra-se talentos, e capacidades, e a vocação. O ser humano está, portanto, apto para o mandato, embora isso não signifique estar apto para a salvação, pois a graça que mantém a existência, embora tenha a mesma fonte: o sacrifício, e ainda que aponte para a graça que salva, está aquém da mesma. Esta graça, no entanto, nos faz indesculpáveis diante da convocação ao mandato cultural, por isso o juízo das nações é: tive sede, tive fome, estava nu, enfermo, forasteiro e preso... Podias tê-ló feito, mas não o fizestes... Ao outro e ao Planeta (Mt 25.31-40).

Se a convocação ao cumprimento do mandato é verdade para todos, o é, em especial, para os que foram levados à graça de salvação. Não há vocação para a Igreja, há o chamado para a humanidade, porque o sonho da Igreja é ser humanidade, para que a humanidade seja Igreja. Porque o homem à Imago Dei é a unidade humana, a humana unidade, a humanidade. "Homem e mulher os criou, humanidade os criou" (Gn 5.2) E os chamou de Adão, Adão é o nome dado pelo DEUS à humanidade. 

O primeiro Adão morreu, mas ressuscitou o último Adão (1Co 15.45). Último Adão é o nome da Igreja, a nova humanidade, que quer se tornar toda a humanidade, pela conversão da humanidade toda. Todo dom da Igreja é para toda a humanidade, uma vez que igreja quer que toda a humanidade seja igreja.

E Jesus levou cativo o cativeiro; o que, desde a fundação do mundo vinha levando, porque há muito, desde Gn 3.9, quando disse: "Adão, onde estás", ELE vem nos libertando; e deu dons aos homens (Ef 4., aos homens do primeiro e do último Adão. Artesãos, artistas, mestres, comunicadores, conselheiros, inspiradores, operadores, organizadores - tudo para que a humanidade fosse uma cooperativa onde todos trabalham para todos, e a Terra fosse um jardim de vida digna e harmoniosa para todas as espécies, e para todos os espécimes. Os que já foram salvos vivem em busca dessa cooperativa e desse jardim, pois, esta é a vocação da humanidade.

Os que se tornaram habitação do Espírito Santo, terceira pessoa do DEUS, para além dos dons da graça comum, a graça mantenedora, têm, também, os dons da comunhão, da graça da salvação: línguas; interpretação das mesmas; palavra de sabedoria; palavra de conhecimento; profecia; serviço; contribuição; ensino; encorajamento; misericórdia; presidência; operação de milagres; discernimento; a fé; dons de curar: advindos da ressurreição do espírito humano, pela habitação do Espírito divino (Rm 12.6-9; 1Co 12.4-30)

E tem as capacidades antigas, e o novo da unção do Cristo: se desbravava, agora pode vir a ser apóstolo; se visionava, agora pode vir a ser profeta; se convencia, agora pode vir a ser evangelista; se cuidava, agora pode vir a ser pastor; se ensinava, agora pode vir a ser mestre; se era empreendedor ou dirigente, agora pode vir a ser presidente diligente, presidindo recursos que sabe ser do DEUS, para o bem de todas as criaturas; se era filantropo, agora pode vir a ser doador do que administra para o DEUS, com liberalidade, para o sustento de tudo e de todos (Ef 4.11; 1Co 12.28; Rm 12..

Os dons novos se juntam aos antigos e num determinado momento, toda a humanidade se une, e todas as ações humanas devem se unir, tendo como objetivo comum, em seu exercício, o cumprimento do mandato para a glória do Criador: o DEUS do Universo. E, aqui, o ser humano do último Adão, ganha uma missão especial, demonstrar ao ser humano, que ainda está no primeiro Adão, o motivo de sua existência: o cumprimento do mandato, que só se cumpre, totalmente, quando se é transferido para o último Adão. E ser levado para o último Adão é voltar ao Adão ideal, que o primeiro foi criado para ser, e que o seria, se comido houvesse da Árvore do meio do jardim (Gn 2.9), a da Vida.

Os membros do último Adão, por suas obras, que são sempre boas, porque boas obras, mais que ato, são o ambiente onde vivem os do último Adão (Ef 2.10), e sinalizam, para os que ainda estão no primeiro Adão, que tipo de vida se deve viver e que tipo de sociedade se deve construir. Por isso, toda formação, todo trabalho, todo acúmulo de conhecimento é missão. Porque existir é milagre propiciado pelo sacrifício do Cordeiro, e toda a possibilidade de bem é doação do Cordeiro sacrificado por vontade própria (Jo 10.17,18). Por isso toda a vida é missão e missão é toda vida.

Fonte: ariovaldoramos.blogspot.com 




Evangelho Integral  


Marcos Aurélio Dos Santos


A criação está em crise. A maldição que causou dano ao casal adâmico se alastrou de maneira tal, que toda criação foi afetada. Basta folhearmos algumas páginas do livro do Gênesis, como também de outros, que claramente encontramos os sinais da degradação. Violência, doenças, sofrimento, decomposição material, inimizade entre os homens, Aumento do sofrimento na geração da humanidade, maldição sobre a terra, morte física e espiritual.

O grande Jardim chamado terra e o homem estão em apuros, gemendo, a espera da redenção. Isto porque a sugestão da serpente foi bem vinda e atrativa aos olhos do casal, contrariando a vontade do Criador e pai do universo. Então, a humanidade como toda a criação está sobre condição de deterioração aguardando a consumação de todas as coisas (Gn. 3). 

O episódio catastrófico do Éden atravessa toda a história e chaga até nossos dias. Os efeitos da queda refletem o quanto precisamos ser transformados integralmente. A corrupção humana e o mal encontrado nas estruturas que estão sobre o controle do diabo nos faz refletir de maneira relevante a urgência de uma restauração de forma integral. Não apenas o homem mas o todo deverá passar pelo processo de transformação causado pelo poder do evangelho.   

O pecado corrompeu o homem em sua integralidade. Numa linguagem dicotômica, a decomposição afetou corpo, alma e espírito. O mal surtiu efeito completo. A consequência causada pela ruína humana foi o bloqueio de acesso ao Eterno, privando o homem de ter comunhão com ele. O pecado do Éden gerou inimizade entre a criatura e o criador. 


A queda gerou no homem um espírito egoísta onde seus pensamentos e ações ficaram centradas em si mesmo. O Adão que gerenciava a criação agora se transforma em um indivíduo egocêntrico. Os cuidados com as coisas que foram criadas e com o próximo não são mais a prioridade daquele que foi criado à imagem de Deus. 

Deus em sua infinita misericórdia decidiu restaurar a criação. Ele resolveu enviar o Filho Encarnado, nascido de mulher, gerado pelo poder do Espírito Santo, que em sua missão toma forma de servo para anunciar o evangelho integral, as boas novas do Reino, o evangelho que traz em sua essência, a transformação de tudo, de forma completa para a glória do Pai. 

Na proposta de Jesus, é pregado o evangelho transformador e poderoso para restaurar o homem na sua totalidade. O evangelho integral busca transformar o interior humano no qual resulta em novo nascimento e vida eterna com Cristo (Jo.3). Logo, este evangelho toma de forma inevitável, dimensões maiores restaurando de maneira extraordinária e poderosa toda a criação. 


Este poder transformador supera de maneira abundante o que foi corrompido pela queda. A maravilhosa graça concedida à humanidade por meio do sacrifício vicário de Cristo. Esta é manifesta revelada no amor de Jesus que por meio deste evangelho, somo confrontados e viver na prática seus ensinos.  

No Evangelho, não há uma dicotomia separando o homem em duas partes, e, portanto, não pode haver exclusividade neste projeto de restauração. Deus não salva apenas almas, mas o homem e mulher de forma integral. Seres criados a sua imagem e semelhança.


Nessa perspectiva, a incumbência de fazer discípulos, requer de nós mais do que meros esforços em encaminhar as “almas” para o céu. É uma tarefa que nos desafia a cuidar de gente. É preciso ver o discípulo como Jesus o viu, enxergando sua carência de comunhão com o eterno, mas também o assistindo em suas necessidades.

Nos ensinos de Jesus de Nazaré, o discípulo é comissionado também para fazer o bem. Como disse Tiago, fé sem vida não é fé, é defunto. Segundo o apostolo, irmão de Jesus, somente uma fé viva está disposta a fazer o bem ao próximo, somente uma fé vibrante se compadece do necessitado. Toda fé que se preza, deve estar acompanhada de obras. (Tg.2.14).

A parábola do bom samaritano nos dá luz para compreendermos melhor o evangelho integral ensinado por Jesus. As boas novas nos desafiam a viver na prática os valores do Reino. Acolher o próximo está muito acima das práticas ritualísticas do templo, fazer o bem não está condicionada a nenhuma regra, rito ou dogma religioso, esta está profundamente atrelada aos valores do Reino ensinados por Cristo em seu Evangelho.

Então, o discípulo é confrontado a encarnar valores nos quais transcendem a justiça humana. Segundo a parábola contada por Jesus, a motivação que levou o bom samaritano a fazer o que os religiosos não fizeram, foi sua atitude de piedade (Lc.10.33).

No Reino é assim, não são as regras que determinam nossas práticas como cristão, mas uma vida piedosa e submissa à vontade do pai Eterno, uma vida de renuncia que sempre prioriza o outro em detrimento de nós mesmos, uma vida de serviço ao próximo, olhando para suas necessidades, uma vida que coloca o discurso em ultimo plano, mas prioriza o fazer. Fazendo o bem sem olhar a quem. 

No evangelho do reino propagado por Jesus, todos caminham em pé de igualdade, não há espaço para a figura do super-discípulo. Parafraseando o mestre dos mestres: Aquele que desejar ser o maior seja servo de todos, o que quiser ser o primeiro que seja o ultimo, o que almejar lugar de destaque, antes se torne o menos conhecido. Todo serviço como todas as nossas demandas devem ser para beneficio outro, pois assim Cristo o fez. 

Caminhar ao lado do outro é a regra de ouro. Amparar o pobre, cuidar dos desvalidos, acudir o enfermo é coisa para bom samaritano, esta prática não está na agenda dos religiosos, por esta razão Deus está à procura de bons samaritanos para serem cooperadores em sua missão. Gente que gosta de gente, homens e mulheres que estão dispostos a colocar os valores do reino acima dos terrenos, pessoas que depositaram seu coração no que é eterno, como no exemplo do homem de Samaria que não era avarento, pois não se preocupou com a conta da hospedaria, mas com a recuperação da saúde da vítima que foi assaltada e espancada gravemente e deixado à beira no caminho.

No reino, devem-se valorizar as pessoas e não as coisas. O bem feitor de Samaria poderia ter a priori procurado os salteadores para recuperar o que foi levado, mas sua atitude de piedade colocou o próximo em primeiro plano. Cuidar dos ferimentos e providenciar abrigo para o homem ferido foi sua prioridade. 

Esta é a proposta desafiadora do evangelho do Reino. Transformar vidas de forma integral, anunciar as boas novas de salvação, caminhar ao lado do próximo para que haja transformação nas comunidades e a igreja possa realizar o cumprimento da grande comissão. 

Fonte: teologiaevida.com.br 
  


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